quarta-feira, 24 de abril de 2013

Fix you

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Pressinto-te cair, beijar rosas encarnadas, de um sentimento atroz que te leva a alma, e adormecer, por fim, já sem ela. Prefiro perder-me do que perder-te de mim, dizia eu em tons de uma amizade que nunca termina e de poemas escritos minuciosamente nos lábios. Olho-te como quem admira o jardim que mais cuida e choro como quem vive já sem propósito. É triste não saber o que fazer com uma alma que persiste em não querer viver e em não se encontrar - desesperante, talvez. Morro enquanto te oiço suspirar já quase sem voz e choro sem cessar, sempre sem soltar um soluço de mágoa para que não me oiças cair. Oh, nunca gostei que me vissem falecer das tantas vezes que o fiz! E custa-me saber que queres fugir e dói-me mais ainda esticar todo o corpo e não te conseguir encontrar para te abraçar enquanto gritas, quase perdida, sabendo que é de um beijo na testa que mais precisas. Eu não posso mais soluçar meios-rios de angústia, enquanto te vejo chorar lágrimas de sangue. E eu não te posso perder, entendes? Afinal, és a minha pequena. Pinky promise.

sábado, 20 de abril de 2013

Enquanto dançava

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Tocava a melodia que me enchia a alma e eu deixava-me apaixonar, não pelo refrão mas por sonhar que mo cantavas ao ouvido esta noite. O quarto estava desarrumado e a Lua iluminava-me o corpo despido e quebrado enquanto dançava. E eu apaixonei-me pelos teus braços, mesmo sabendo que estes não me conheciam o rosto. Soltei os cabelos quase num grito e fingi que me penteavas com as mãos e que as gerberas sorriam por nos ver dançar abraçados. Ao invés, o chão sabia-me a noites choradas e a olhares nunca partilhados e a melodias dançadas todas as manhãs como quem se desfaz em penas por não te ter. Mas talvez eu não mereça a música, o pedaço de papel em que escrevo nem, tão pouco, tão doces suspiros por dar a dois. Acabei por cair num plié desfeito e chorar até à chuva, por fim, cessar. Talvez sejas só o meu pedaço de céu preferido.

domingo, 14 de abril de 2013

Saudades de uma outra vida

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Eram tempos em que os jardins ainda estavam cobertos de túlipas e o chilrear incessante das aves era quase tão acolhedor quanto um abraço. Éramos meninas de saias verde-água e cabelos soltos e airosos, malmequeres precocemente colhidos com uma só mão. Era tão fácil viver. Corríamos de mãos dadas pela manhã e chegávamos até a fazer promessas de que nunca nos iríamos separar. Sabíamos lá nos o significado efémero das palavras para sempre.
Os dias de chuva apareceram e os pássaros deixaram subitamente de nos cantar amor aos ouvidos. Os anos foram-se passando e os jardins cobriram-se de margaridas mórbidas e perdidas. Num breve suspiro, estava sozinha e a nossa promessa havia-se quebrado. Oh, e toda eu não fosse promessas de sábado à noite choradas ao luar! Perco-me agora em cartas que escrevo para almas que ainda conheço e que nunca esquecera. Deito-me no chão onde dançávamos felizes todas as tardes, recordo todas aquelas vezes em que sorríamos de pés mergulhados no lago da cor dos meus olhos e choro como quem morre de saudade. Adoro-vos - sussurrei à estrela que mais brilhava na pureza dos céus e quase que senti o suave toque das mãos delas entrelaçarem-se nas minhas. Adormeci.

sábado, 13 de abril de 2013

Uma metade de alguém

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Ele cheirava ainda a longos e quentes dias de agosto e caminhava, passo a passo, numa leveza quase inconfundível. Trazia um ar de quem esconde a alma e esboça meios sorrisos desfeitos. Os enormes olhos azuis faziam-me recordar as noites passadas a dormir só com o mar e as estrelas. "Oh, as estrelas!" - dizia ela num suspiro. Gostava que as visses comigo. Quando te vislumbro, ao longe, perdido em meios caminhos de quem conversa e ri e fuma e esconde a alma débil que todos desconhecem, imagino-nos em cenários longínquos à beira-mar abraçados. O teu corpo transmite-me uma segurança como quem colhe rosas e as oferece aos céus após beijar minuciosamente todas as suas pétalas. Sou uma meia gargalhada, um meio café, um meio anoitecer precoce de inverno, uma meia estrela. E sonho que um dia possamos ser uma só alma e murmuraremos segredos à Lua juntos.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Dois corações

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Voavam como dois pássaros
De asas postas a medo,
Murmuravam amor aos ouvidos
Vocábulos de quem se ama em segredo.

Ali estavam estendidos
Mergulhados nos rios de Deus,
Humildes como quem sabe
De cor tais corpos seus.

Olhavam-se como quem escreve
Cada pormenor dos seus olhos,
Despiam-se num calor solene
Eram cartas escritas aos molhos.

Passavam noites a fio
A beijar rosas sobre o corpo
Na doçura de quem só conhece
As ternas almas um do outro.

Ela vivia antes escondida
Morrera cem vezes por dentro
Agora dançava feliz
Só com ele no pensamento.

domingo, 7 de abril de 2013

Noite de ilusões

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Rasgo cartas molhadas
Que escrevo com dor ao deitar,
Colho discos de música
Que outrora amara dançar.

Abre-se-me o peito na noite
Cansada do teu nome chamar,
Sonhos afundados no rio
De alma exausta de gritar.

Sorrio quando apareces,
Choro sempre que te vais
Como quem espera um beijo
Ou, quem sabe, até algo mais.

Retratos desenhados de inverno
Por mim, até não muito mal,
Teus lábios chorados a carvão
O que me és tu afinal?

Falo como se a meu lado estivesses
De alma caída e nua,
Talvez queira estar só contigo
E dançar; eu, tu e a Lua.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Quase manhã de inverno

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O amor era-lhe fugidio e, quase num tom sedutor, dizia que sonhava que um dia alguém a amasse. Já não mais sabia o que queria; se pensar nele, se levá-lo do pensamento ao sabor das fortes ondas do mar. Era uma manhã de março que mais parecia invernil, chovera durante toda a noite e não tardava até chover mais um pouco. Embutida naquele ambiente, cerrava os olhos e era guiada pela simplicidade do rebentar das ondas. Perscrutava o mar e, na verdade, era do que mais precisava naquela tão gélida manhã. O facto de o mar a tranquilizar era a única certeza que possuía.
Bebia uma água gaseificada ao passo que o vento por ela passava e, de quando em vez, esfregava as mãos uma contra a outra na esperança de que a mínima energia calorífica se deixasse aparecer. Tinha os pés gelados de quem corre na neve sem cessar e o coração perdido nas palmas das mãos de quem sofre por entre gritos mudos. Esta noite tinha sonhado com ele, mas não o contara a ninguém, pois presumira que se o fizesse se pusessem a inventar histórias como em tantas outras vezes. Era agora uma gota de água caída e um vestígio de uma tão-somente carta molhada deixada voar em tempos de inverno. Incapaz de desvendar o que escondia o seu pobre e sofredor coração, ali permanecia, na esperança de que o mar lhe trouxesse uma única resposta. Era quem mais cria no mar e sabia que quando todos se fossem embora e deixassem a praia finalmente deserta, este lhe aquentaria a alma. E era tudo o que mais queria.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Até o Sol nascer

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Passava noites de olhar fixo nos livros que contavam os mais belos contos de amor e de coração preso por um só fio. Tinha a cicatriz no peito de um corpo possuidor de um coração débil nunca antes amado de verdade. Os cabelos escuros e compridos contavam mil e uma histórias de rua e os lábios rosados e tão bem delineados escondiam segredos de romances lidos e nunca caídos em esquecimento. Esta noite esperava pela Lua, como em tantas outras o fazia, e escrevia poesia ao som da chuva e ventania incessante que se instalara de repente. É difícil desvendar os maiores segredos de um coração, saber o que este sente sempre que bombeia sangue para todas as partes do corpo. Ela não sabia o que sentia e perdia-se em caminhos feitos de rosas mórbidas e desfeitas na melancolia de um coração nunca admirado por ninguém. Pensava nele sem cessar, mas custava-lhe admitir que sonhava que lhe voasse até aos lençóis uma doce mensagem por ele escrita na leveza de uma folha de carvalho. E esperou pela Lua até o Sol nascer, mas esta não chegou a aparecer... Não esta noite.