sexta-feira, 31 de maio de 2013

Jardins que choram

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Eram tantas flores que me perdi, vi-me sem rumo nas mil e uma pétalas dançadas em manhãs de primavera. Ainda era cedo, oito da manhã quase, nem tanto, já eu beijava ramos e troncos de carvalhos que se pareciam esconder à medida que os meus olhos os alcançavam. Trazia geada no olhar, ventos carregados por pássaros que levam o teu nome escrito nas asas já quase desfalecidas. E não era mais que uma primavera vivida por entre beijos e sussurros de amor à Lua e cigarros fumados a medo.
Anoiteceu. As magnólias esconderam-se e os melros refugiaram-se em ramos que lhes contavam histórias de amor ainda antes de amanhecer. E estava quase vestida de preto, eu que nunca me vestia de tons escuros. Ainda pensei que te viesses sentar a meu lado e me beijasses os lábios cansados de te cantar poesia mesmo antes dos melros se soltarem dos ramos e do Sol nascer. Em vão. Acho que chorei com uma rosa, não me lembro, mas, para a próxima, prometo dançar ao som da melodia que já não me cantas.

domingo, 26 de maio de 2013

Primavera

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O amor inunda-nos devagar, mas dizem que pode deixar-nos rapidamente. Aprendi o sabor da primavera e do chilrear dos pássaros no dia em que me ensinaste a melodia dos teus olhos e as histórias dos teus lábios. Oh, e que doces histórias essas que me contaste, de todas as vezes que  me abraçaste e entrelaçaste os teus dedos nos meus. Foram tantas as vezes que me deixei adormecer fingindo que me aquecias com os braços e tantas outras em que a Lua nos aquentava os corações mergulhados no rio que eram os nossos corpos cansados. E eu tinha saudades do Sol e era quase borboletas poisadas numa pétala de rosa chorada antes de te encontrar. Já não me tenho, já não me sinto. Levaste-me, a mim e às mil canções que te cantei antes de adormeceres e beijares-me o peito em outras tantas noites dançadas. E eu espero, um dia, voltar a ser primavera nos teus braços.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Apaixonada

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Cheiravas a amor quando te conheci e eu contemplava-te, a passear ou simplesmente a admirar os pássaros que nos sobrevoavam as cabeças, como quem contempla uma tão célebre noite de céu estrelado. Tenho pensado em ti, mais do que devia até, mas nem sei bem o que isto significa, ou talvez saiba e não o queira proferir ainda. Agora, sentada na relva molhada, sorria-te como se me conseguisses ver renascer nos teus braços. E acho que me consertas aos poucos, com cada palavra, com cada toque, com cada amor que choras nos teus lábios. Já te tinha desenhado outras vezes, em folhas de papel rasgadas nas passadas noites de inverno em que os gatos se refugiavam por debaixo dos carros sujos e os pássaros já nem sequer voavam, mas esta noite desenhava-te com os olhos. Chorava feliz por quase te ter a alma e, completamente embutida nos romances outrora lidos ao luar, deitava-me sobre a relva e imaginava-te a segredar-me beijos ao ouvido. Quase que te ouvia e, mesmo sem querer, deixei-me apaixonar pelos teus olhos. Oh, e o quanto eu gostava de te chamar céu e ser a Lua em ti...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Doces beijos teus

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Era um sorriso disforme
Com o sonho de ser pianista,
E dançava como quem se consome
Com flores de uma alma nem vista.

Escrevia de dia; e de noite
Cantava os tormentos à Lua.
Na beleza do Sol poente
Dançava em plies pela rua.

Depois de tamanha tristeza,
Talvez tenha chegado o seu dia
De ser rosas deitadas sobre a mesa
A beber sorrisos que trazia.

Lábios doces de madrugada,
Corpos desenhados sem fim,
Olhares de quem teme nada
De poemas beijados assim.

Céus escuros de paixão
De um corpo que nunca se afasta
Poesia escrita no chão
Onde um meio suspiro só basta.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Asas


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Tinhas os olhos da cor do oceano, possuidores de uma certa pureza e amabilidade escondida. Conheço-te as costas cansadas, os recantos mais obscuros do olhar e os lábios rosados e chorados quase sem querer. Tinhas os lábios que eu sonhava beijar, um dia, enquanto tocava piano para a Lua e para ti. Tenho sonhado contigo, sabes? Quando cerro os olhos vejo-te, cheiras a verão e a poemas cantados aos meus ombros na noite. Ainda não sei como te consigo sentir o toque na face ou cheirar-te a camisa quando adormeço com o coração em ti, nem sequer ouses perguntar-me. E vejo os melros voar até ao topo do sobreiro que me sente a pele queimada quase sem pestanejar, sempre adorei pássaros. Escrevi-te enquanto o Sol ainda iluminava a cidade e deixei-me cair enquanto ele caía no mesmo compasso de tempo. Cerrei os olhos mais uma vez, só mais uma vez, e quase que te senti o sorriso no peito. E se fôssemos agora dois pássaros e voássemos de asas entrelaçadas?