terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lágrimas

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Ela lia a beleza dos céus com o olhar e sonhava poder, um dia, ler amor nos olhos de alguém. As músicas que ouvia, os romances com que chorava, deixavam-na com vontade de ser a Lua nos braços de quem a amasse da maneira que o fazem nos filmes. Era uma só pétala de malmequer deixada cair, uma mera sala vazia, uma vela acesa antes de adormecer. Mas ela não sabia o que se passava dentro de si e chorava, chorava todas as noites até o sol nascer. Nunca ninguém lhe chegara a ver as lágrimas, apenas o melro que lhe chilreava pela manhã ao ouvido enquanto ela acordava e limpava a cara. Ela aparentava ser portadora de uma doçura quase indescritível, mas ninguém parecia querer segurar-lhe o coração. Afinal, a não ser o pequeno melro do sol nascente, não havia quem lhe abraçasse a alma. E era só disso que ela precisava, de alguém que lhe beijasse a face, a abraçasse durante horas e lhe dissesse que tudo iria ficar bem. Só depois percebi o porquê dela apreciar tanto a Natureza... Afinal, haverá coisa mais triste que uma noite passada a escrever lágrimas ao relento? E coisa mais bela que um melro a cantar-nos poesia aos ouvidos?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Estrelas de amor


Ele desenhava-lhe amor nos cabelos e beijava-lhe rosas no peito de cada vez que se deixavam mergulhar numa paixão quase maior que os seus dois corpos abraçados. Tinha-lhe mais carinho do que à própria vida e, oh, adorava escrever-lhe poemas pelo corpo. Percorriam-se um ao outro num movimento tão subtil e único que até o céu parecia fotografá-los para, um dia, poder contar ao mar o que realmente era amar. Porque, na verdade, o que importa mais senão os céus  nas vidas de quem se ama? E é tão bonito contar as estrelas ao colo de quem nos tem a alma. E que não se faça mais dia, e que as estrelas iluminem os corações de quem mais chora, e que o mundo se apaixone e viva cada momento de olhos postos na Lua. Eles queriam fazer com que cada beijo durasse para sempre e com que cada estrela lhes preenchesse a alma até adormecerem. Porque não há nada mais belo que uma noite de amor, a não ser a Lua... E só ela os amava tanto quanto eles a si próprios.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sem estrelas


Não escrevia há já muito tempo, talvez porque deixara de sentir algo - borboletas. Afinal, o que é um escritor sem as borboletas que se lhe consomem a alma? E o que é o verão sem um amor tão apaixonado que nos faz sorrir a cada pássaro que nos sobrevoa as cabeças? Ela quebrava-se todas as noites, num choro escondido de quem sente o Inferno tão perto, que o consegue quase pisar. Vai deixar de doer, um dia - diziam-lhe em segredo. Ela fumava e chorava rosas de cada vez que pensava que ele se fora embora e no amor efémero que viveram (ou quase chegaram a viver). Ainda sonhava com os seus olhos - os mais belos que alguma vez vira, e com os seus lábios que a arrepiavam só de imaginar o prazer que lhe poderiam dar um dia. Era ele quem mais queria ver quando acordasse e queria beijar pouco antes de adormecer nos seus braços. Mas, certo dia, ela deixou-se inundar por uma paixão tão forte, que acabara por cair na ideia de um homem que nunca existira. Porque ele não era esse homem com quem tanto sonhava, nem tão-pouco quem lhe beijara tantas e tantas vezes o peito e lhe abraçara a alma. Ele magoara-a tanto que ela quis odiá-lo mais do que se odiava a si mesma. Mas ela ainda não se sentia em casa... Ele era o seu lar, o seu jardim, o seu maior desejo. E o que se faz com uma alma que perde a sua casa? Ainda chorava sempre que tocava tão suavemente as suas melodias de inverno no piano e diz-se que um coração que chora, é um coração ainda magoado. Ela era-lhe o céu e ele as suas estrelas. E quem ama sabe o quanto dói olhar para o céu e não o ver estrelado.

domingo, 7 de julho de 2013

Adoro-te


Ela tinha os cabelos escuros como os céus nas noites de dezembro e era pequenina. Trazia uma doçura de criança no seu sorriso quase perfeito e os seus olhos negros contavam mil e uma histórias aos morcegos de madrugada. Acompanhava-me já há muito e passávamos os dias de verão sempre juntas. Naquele verão, eu não queria rir-me com ela nem tão-pouco passar tempo com alguém senão as paredes que comigo choravam em cada lúgubre anoitecer. Mas ela sempre fora mais forte do que eu e conseguira fazer com que pisasse outro chão senão o do meu quarto e com que sorrisse quase tão discretamente como quando o Sol beija a Lua no inverno. E ela era mesmo isso, uma alegria tão discreta, mas sempre tão bonita. Oh, mas ela também chora. Eu sei que não me diz quando o faz com as estrelas e que prefere fazer-me sorrir do que saber que eu a vejo esboçar uma espécie de sorriso meio-escondido, meio-desfeito. Naqueles dias, assim como em tantos outros, fora ela quem me fizera acreditar que a vida é tão bela quanto os poemas que os rouxinóis cantam e eu adoro. Obrigada por gostares de mim quando eu já nem de mim gosto - dizia-lhe enquanto ela dormia. Talvez não tenha sido o verão mais belo de sempre, mas foi aquele em que aprendi o quão bom é tê-la por perto. Agradeço-lhe por me desenhar os sorrisos mais bonitos e, oh, peço-lhe que me deixe desenhá-los a ela também numa daquelas noites de inverno em que eu sei que precisa mas não me conta. Gosto mais dela que da Lua.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A melodia de uma lágrima


Tudo o que se ouvia na cidade era o som do violino que tocava, no quarto que era quase mais vazio que os céus. Tinha os cabelos escuros e compridos e a subtileza com que estes lhe preenchiam os ombros tornavam-na um pedaço belo de jardim. Os seus grossos e enigmáticos lábios - de quem nunca é beijado pelo mar - davam-lhe uma elegância imperfeita que poucos compreendiam. Tocava sem cessar aos pardais há horas, fechava os olhos e, de quando em vez, chorava. Tinha medo de viver, porque viver agora somente a magoava. Sentia os ossos quebrarem-se-lhe sempre que dançava pela sala num suspiro ao implorar pela sua alma de volta. Mas ela não parecia parar de chorar... Tocava mais uma vez e o movimento dos seus braços era quase tão belo como o luar. A dor parecia movê-la e fazer com que ela não parasse de tocar até amanhecer. Não se sentia bem, queria desaparecer para onde os pássaros lhe beijassem os poemas que escrevia e pudesse chorar durante dias a fio. Talvez não fosse apenas uma simples rapariga, talvez fosse um sorriso transformado numa mágoa que parecia terminar só no Inferno. Era, agora, nada mais que um céu sombrio e tenebroso. A pele parecia-lhe mais pálida que  o habitual ao espelho e os seus olhos já não mais brilhavam quando o vento abria as janelas numa espécie de jogo de forças. Era capaz de sentir a dor de quem é despedaçado aos poucos, porque, afinal, não dói pouco perder o coração. Não pedia que ele a amasse, já só queria aprender a odiá-lo. E, mesmo assim, não parava de tocar.