segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Unidos para todo o sempre

Inalo o teu perfume e entrego-me inteiramente a ti. Cheiras a noites quentes, a infindáveis dias de paixão, a afeto, a vida. Tens todo o calor que eu não tenho, o suficiente para aquentar o meu corpo gelado. Do quarto vislumbra-se a Lua, as estrelas e o tão tenebroso céu. Por baixo dos lençóis beijas-me o joelho, aquele que tu mais gostas, a barriga e o peito. Sobes até ao meu ombro e aí deixas-te ficar, paralisado, suspenso, inerte. Entrego-te o meu corpo e acarinha-lo como se fosse o chocolate mais cobiçado do mundo inteiro e, por conseguinte, o teu preferido. Nunca me sentira assim, admito, nem amara ninguém tão intensamente. Os meus sonhos tornaram-se páginas do meu diário, pois tornaste possível tudo aquilo que eu idealizara em anos. "Eu e tu...", sussurras-me ao ouvido. Nesse mesmo momento, a luz apaga-se e a Lua torna-se mais vizinha do que nunca. "Eu e tu.", respondo-te eu. Adormecemos perfeitamente entrelaçados e unidos para todo o sempre.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Tão real

Era de noite e uma enorme Lua Cheia iluminava-me o caminho. Eu tinha ido visitar a A. à terra onde ela se encontra a viver agora. Ela tinha-me dado todas as indicações para como chegar a sua casa e eu fi-lo exatamente como ela me dissera. Toquei à campainha, a porta abriu-se e corremos uma para a outra à velocidade da luz, em forma de apagar toda aquela saudade. Permanecemos abraçadas durante um período de tempo infindável, ao mesmo tempo que rezávamos para que aquele momento não terminasse nunca e chorávamos intensamente. Verbalizámos algumas palavras, entre soluços de choro, e, pouco depois, tivemos de nos despedir novamente. Abraçámo-nos mais uma vez, eu beijei-lhe a face e pedi a Deus que nada de mal lhe acontecesse. Fechei a porta de casa e entrei no carro com um sorriso nos lábios e os olhos encharcados de emoção.


Acordei a chorar, isto não passou de um sonho. Merda.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Uma noite na praia


Já é tarde e o céu pôs-se escuro e repleto de estrelas. Oiço as ondas bater cada vez mais suave e levemente e o palpitar do meu coração vai acalmando, aos poucos, também. Estás ao meu lado e não paras de me admirar nem por um segundo, como que se quando tirasses os olhos de mim me perdesses por magia. Tens os lábios entreabertos, à espera de um beijo talvez, um sorriso desfeito e uns grandes olhos tranquilizantes da cor do mar. Pões o braço por cima de mim e abraças-me, encosto a cabeça ao teu pescoço e deixo-me ficar ali paralisada, enquanto me acarinhas tão docemente o braço que está próximo de ti. Sinto-me como nunca me senti antes, inserida e completamente detida por este ambiente que tanto admiro. Está frio, é de noite e tenho-te comigo. Estarei eu a sonhar? Os meus olhos vão-se fechando e tu beijas-me a testa, o que me faz despertar. "Estás cheia de sono, não estás?" - dizes-me num sussurro. Volto a fechar os olhos, consigo ouvir-te despir o casaco castanho que trazias e a cobrir-me inteiramente com ele. Seguidamente, abraças-me como se fosses uma chama bem quente que me quer desesperadamente aquecer, penteias-me o cabelo com os dedos e deitas-te a meu lado. "És tudo o que eu sempre sonhei.", consigo ouvir-te dizer, mesmo sem tu saberes. Estou demasiado imobilizada e latente para dizer qualquer coisa, por isso limito-me a pensar no quão maravilhoso és. Deixamo-nos ficar assim, perdidos numa constelação perfeita que nenhum de nós vislumbrara antes. Deitados sobre a areia sem dali mais sair, apaixonados, tu cansado e eu adormecida nos teus braços.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Dois corações e mais nada


Estava a chover muito e as ruas começavam a ficar inundadas. Já estava ali sentada havia umas horas sem saber para onde ir e em busca do impossível, talvez. A chuva fazia-se ouvir sempre que batia fortemente nos passeios e as janelas fechavam-se do frio que começava agora a entrar para os lares da cidade. Tinha os óculos postos, os mesmos de sempre, para que não me vissem os olhos tal como eu não consigo ver os deles. Comecei a ouvir uns passos e senti que alguém se aproximara, disse “Olá?” mas não obtive resposta. Eu sabia que estava alguém sentado a meu lado naquele banco desgastado da chuva e da luz do Sol, não sei como, mas sabia. Após uns minutos senti um toque no braço direito e arrepiei-me, era uma mão máscula e terna e era disso mesmo que eu precisava. Soube-me bem, visto que estava a ficar cada vez mais gelada. Voltei a perguntar quem estava ali, mas ninguém me respondeu novamente. Sabia que me devia ir embora, mas havia algo que me puxava para aquele banco, para aquela pessoa... Algo que me impedia de ir onde quer que fosse. Era mais forte do que eu. Era um rapaz, um elegante adolescente de apenas 16 anos, dono de uma beleza imensa. Tinha os olhos da cor da relva do parque, as bochechas rosadinhas e os lábios carnudos e bem encarnados. Eu não o sabia, não o conseguia ver e tinha pena disso. Pedi a Deus com todas as minhas forças que esta deficiência visual me passasse nem que fosse só por um instante, porque eu precisava de o ver. Estiquei a mão até o sentir, brinquei com o seu cabelo e desci até à sua boca, contornei-a com a ponta dos dedos e voltei a poisar a mão no banco. Ele via-me, apenas não me conseguia ouvir nem mesmo comunicar comigo. Senti uma brisa quente, pela primeira vez naquela tarde, e senti-o a aproximar-se. Os seus braços subiram até ao meu pescoço e aí abraçou-me com a maior força do mundo, algo que eu nunca sentira antes. Beijou-me o pescoço, depois a face e deixou-se ficar no meu nariz proporcionando-me curtos beijinhos que eu quase nem sentia mas que pareciam significar muito para ele. Pus as pernas por cima das dele mesmo sem o ver e abraçámo-nos com toda a força. Ele adorava-me com os olhos neste momento, dado que era um dos poucos sentidos que tinha. Parou de chover e eu entreguei-lhe o meu coração, pequeno e molhado, e ele confiou-me o dele a mim também. E, pela primeira vez, percebi que uma boca não serve só para falar, mas também para beijar e para imaginar o que poderia ser dito; que uns ouvidos não só escutam como imaginam as maravilhas que poderiam escutar; e que só uma pequena parte dos olhos tem a função de ver, a outra limita-se a sentir e a sonhar. Eu sou cega e ele é surdo mudo. Assim permanecemos naquele banco até anoitecer, entrelaçados e unidos por algo inquebrável. E eu nunca me sentira tão viva.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Amo-te



Fizeste-me despertar com um doce beijo na testa e um suave toque na face, beijaste-me desde a testa até ao umbigo, onde te deixaste ficar abraçado. O teu cheiro ainda está nos lençóis, no meu corpo e na minha alma. Consigo senti-lo. À medida que vou ganhando forças para abrir os olhos, relembro cada momento da noite anterior: toda a magia, toda a simplicidade, aquele prazer. Quando abro finalmente os olhos oiço-te numa voz baixa e terna a proferir: “Bom dia, meu amor” e eu respondo-te com um beijo. De seguida deitei-me por cima de ti, perfeitamente embutida nesse teu corpo imenso. Deixámo-nos ficar assim umas duas horas induzidos no silêncio daquela manhã de domingo e a recordar a assombrosa noite que haviamos passado juntos. Da janela vislumbra-se o Sol e uma nuvem apenas. Consigo sentir o cheiro a inverno e escutar o precioso pipilar dos pássaros. Sinto que somos um só, que conhecemos tudo um do outro. Tu tens-me na tua mão e toda eu sou um pouco de ti. Sucedeu-se uma incrível sessão de beijos e troca de afetos entre os nossos corpos agora bem quentes. Eu vesti-te e tu fizeste-o também comigo, no mesmo compasso de tempo. Não era isso que queríamos, estávamos inundados de prazer e eu sentia-o, queríamos despir-nos e começar tudo novamente. Beijavas cada pedaço de mim à medida que me vestias e fizeste-o por todo o meu corpo. De almas entrelaçadas despedimo-nos, porque tinhas encontro marcado no trabalho às dez e já havia passado dez minutos dessa  hora. Antes da porta se fechar, beijaste-me o pescoço e eu inalei o teu tão característico cheiro. Disseste-me “Nunca conheci ninguém como tu” e eu respondi-te “Amo-te”, foi o resumir de inúmeros batimentos cardíacos numa só palavra. Abracei-te e mordi-te a orelha.